Sem nenhuma satisfação, afirmo que o governo brasileiro é profundamente despreparado para enfrentar a crise com a pandemia. A afirmação é do economista Paulo Nogueira Batista, ex-diretor do FMI pelo Brasil e vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS em Xangai (2015-2017). Ele participou de reunião virtual da Bancada do PT na ALERGS, realizada na manhã desta segunda (27). A reunião da bancada foi aberta aos veículos de comunicação para cobertura.
Ao avaliar o cenário internacional, Nogueira lembrou que a pandemia é a terceira crise que o liberalismo enfrenta no século 21. A primeira foi a crise econômica internacional nos anos de 2008, 2009 e 2010. A segunda é a ascensão, nos EUA e em alguns países da Europa, de lideranças populistas de direita, xenófobas, retrógradas, que são contrárias ao paradigma neoliberal. Segundo ele, economistas internacionais e até mesmo instituições internacionais, que em geral são comedidas em suas avaliações de conjuntura, afirmam que esta crise é mais grave que a crise internacional de 2008-2010. “Há quem diga também que será superior em intensidade a grande depressão dos anos 30, o que se for verdade por si só é alarmante”, comentou.
Para ele, este terceiro grande choque (a pandemia do Covid-19) vai mostrar que, em emergências, há uma necessidade da “mão invisível do Estado”. “Então aqueles países que embarcaram mais açodadamente na onda do Estado Mínimo do liberalismo são os que se encontram em pior condição para fazer frente ao desafio da pandemia”, avaliou.
O economista afirmou que um desafio como o da pandemia não será resolvido nunca pela ação pura e simples do mercado. “Sem a coordenação estatal é impossível enfrentar esta crise. Então na crise todos são Keynesianos, até os liberais mais empedernidos aderem ao discurso Keynesiano”, resumiu.
Sobre o cenário brasileiro, Paulo Nogueira Batista disse que o país já estava correndo riscos muito graves a sua integridade como Nação antes mesmo da pandemia. No cenário atual, ao risco de desintegração das relações sociais, econômicas e políticas, para Nogueira, é maior ainda. Ele defendeu a importância de iniciativas como a renda básica emergencial, destacando que países do mundo todo tratam essa questão como uma política pública permanente, que deveria ser incorporada pelo governo federal.
Ele concluiu falando da importância de o país ter medidas e ações para responder à crise. “Como afirmei no livro que lancei no ano passado, o Brasil não cabe no quintal de ninguém”, reforçou. Para ele, a falta de um programa que responda à crise por parte do governo federal, agrava ainda mais a situação dos Estados. No caso do Rio Grande do Sul, que tem uma economia com peso na exportação, o impacto poderá ser maior.
Texto: Eliane Silveira (MTE 7193)