Sim, o tema do Covid-19 é atual, urgente e tem exigido um conjunto de alterações no cotidiano das pessoas, nos espaços de trabalho e nas campanhas de conscientização. Mas como fica a situação daquelas pessoas que cotidianamente são invisibilizadas e desassistidas dos cuidados, dos atendimentos, das informações e de uma política de assistência social priorizada no orçamento e na condição dos seus trabalhadores? Como ficam as pessoas que não têm acesso ao saneamento básico, ao banheiro para higienizar as mãos ou tomar banho?
Das grandes ações para conter a disseminação, orienta-se a ficar em casa o quanto possível, lavar as mãos com água e sabão abundantes várias vezes ao dia e uso do álcool gel para finalizar. Cuidar dos idosos e crianças das nossas famílias e aguardar em quarentena a confirmação dos indícios da contaminação.
Mas e quem mora nas ruas? Quem precisa se reunir debaixo das marquises para se proteger da chuva ou do calor excessivo? Quem vive em “casas” improvisadas e aglomeradas, em grande quantidade de pessoas?
Porto Alegre que em 2016, segundo levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apontava para a existência de 2.115 pessoas em situação de rua, agora ultrapassam 4 mil pessoas, com apenas 355 vagas de albergagem durante o ano e 415 na “operação inverno”. Se a situação de rua dobrou, o orçamento da assistência social despencou de R$ 92,4 milhões para a Fundação de Assistência Social e Cidadania – FASC, em 2016, para R$ 66,8 milhões em 2019.
A situação de rua no Rio Grande do Sul é grave, segundo o Cadastro Único para Programas Sociais, são mais de 7 mil pessoas em situação de rua, estimativa que não acompanha um contingente que aumenta a cada dia e que não encontra formas acessíveis de inclusão no mesmo cadastro. Não só na capital e região metropolitana, o interior do estado já vivencia essa mesma situação, na mesma velocidade em que se ampliam as desigualdades.
Toda vez que vivemos situações de crise, as pessoas mais pobres são as mais afetadas, especialmente em tempos que são a última prioridade. Portanto, para além de pressionar por serviços públicos e atendimentos para essa população, é tempo de ampliarmos nossa solidariedade e nossa atenção.
É fundamental que a informação chegue nas ruas. Quem puder andar com uma garrafa de água, sabão e álcool gel para oferecer. Verificar se os banheiros públicos estão abertos em condições de uso, se os albergues estão abertos, em condições de segurança para os trabalhadores e usuários.
Fundamentalmente, verifique se a Prefeitura, o Governo do Estado e o Governo Federal tem se debruçado a pensar sobre o assunto (já adianto que ainda não temos nem uma linha).
A disseminação do Corona vírus pode ser rápida, mas ela pode ser menos fatal se conseguirmos disseminar com a mesma intensidade, os nossos conhecimentos, a nossa capacidade solidária com a população e os trabalhadores da assistência social, nosso tempo, nossa indignação, nossa força política e nossa voz.
Proteção não pode ser um privilégio! Olhe ao seu redor, pense no coletivo!
(*) Assistente Social, Diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica.
(Por Sul 21)
(por Paola Carvalho)