“Os índices de violência contra a mulher seguem aumentando mesmo quando os demais delitos diminuem, como mostram os dados do início desse ano no Rio Grande do Sul: 233% de aumento do feminicídio no mês de janeiro”. Foi assim que a deputada Sofia Cavedon abriu o seu discurso na tarde desta quarta-feira (11), durante a Sessão Solene em homenagem ao Dia Internacional da mulher, ocorrido no último domingo, dia 8 de março. A parlamentar representou a bancada do PT, que indicou para o Troféu Mulher Cidadã na área da Cultura a pesquisadora, escritora e tradutora Natália Polesso, que no ato foi representada por Aline Job.
Para Sofia, são necessárias políticas públicas em larga escala, que cheguem nas escolas e nas famílias, nas relações trabalhistas e sociais, nas igrejas e nos meios de comunicação para que se mudem comportamentos profundamente enraizados na formação dos sujeitos. “Quem pode conviver e naturalizar 116 feminicídios em 2019, 1.714 estupros, 20.989 lesões corporais e 37.381 ameaças de violência contra mulheres, considerando apenas o que foi registrado? Ninguém! No entanto, as explicações ainda têm muitos subterfúgios: ou passam pela responsabilização da vítima, ou são tratados da mesma forma que qualquer outra violência, ou, principalmente, a cultura conservadora que informa a visão da mulher, é defendida e reproduzida desconectada, sem relação com a violência”, afirmou.
A deputada, que é professora e presidente Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, defendeu que não há outro jeito para se transformar a cultura machista através da educação. “A educação cumpre um papel fundamental para mudar comportamentos machistas e discriminatórios em relação às mulheres e às meninas. Quanto mais cedo começar a educação para uma cultura não machista, mais possibilidades teremos de os meninos tornarem-se adultos que respeitam as mulheres”, defendeu.
A homenageada
Natália Polesso, indicada pela bancada do PT ao Troféu Mulher Cidadã, na área da Cultura, representa a construção da mudança dos comportamentos não machistas e de respeito às meninas e às mulheres através da sua literatura que muitas vezes é atacada pelas suas posições políticas em defesa da população LGBT e sobre o afeto e o amor entre as mulheres. A escritora recentemente também sofreu ataques, por segmentos conservadores, por ter um trecho de seu livro “Amora” na prova do ENEM no ano de 2019. Conforme Natália, a abordagem é bem incomum, pois a proposta de “Amora” é justamente mostrar que as histórias sobre lésbicas são plurais. “O livro traz contos sobre adolescentes descobrindo a sexualidade e sobre idosas que há décadas romperam com a heteronormatividade; sobre paixões recentes e sobre aquelas que já duram uma vida; sobre a leveza do amor e sobre o que há de mais doloroso nele; sobre lésbicas discriminadas e também sobre aquelas que são aceitas no círculo social”.
Texto: Claiton Stumpf
Fotos: Joaquim Moura