sábado, 23 novembro

Foto: Divulgação/MST

 

Atividade reuniu trabalhadores de diversas organizações que apoiam a Reforma Agrária

 

 

Para compartilhar seus desafios e reafirmar seus compromissos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio Grande do Sul reuniu companheiros e companheiras de diversas organizações para o Encontro dos Amigos. O evento aconteceu nesta quinta-feira (19) no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, onde ocorre o 19º Encontro Estadual do MST.

O objetivo da iniciativa foi celebrar conquistas e reafirmar o compromisso de luta junto à classe trabalhadora, além de “selar” as amizades para que se possa construir um projeto de vida, que respeite a natureza, as pessoas e as diversidades.

Entre os convidados estavam deputados, prefeitos, sindicalistas, lideranças sociais e demais sujeitos que apoiam a luta pela Reforma Agrária. O encontro trouxe simbologias que integram o cotidiano das famílias do MST. Parte delas foi entregue aos convidados, como o arroz orgânico, mudas de árvores e bonés.

Na ocasião, Silvia Reis Marques, da direção nacional do MST, destacou os desafios que o Movimento se propôs a encarar no próximo período. O trabalhadores Sem Terra continuarão a luta pela Reforma Agrária Popular, a organizar a produção de alimentos saudáveis nos assentamentos e a cultivar valores humanistas e socialistas.

Também seguirão a enfrentar o agronegócio e a cuidar dos bens comuns, como a natureza, a terra e as nascentes. Nesse sentido, Silvia informou que o MST vai plantar 100 milhões de mudas de árvores em dez anos para reflorestar o Brasil.

Além disso, anunciou que será inaugurada uma unidade do Armazém do Campo em Porto Alegre, em 2020. “É um espaço onde divulgaremos a Reforma Agrária Popular, a nossa produção de alimentos, mas também a produção de sonhos, resgatando a cultura popular, os saberes, os sabores”, disse.

A camponesa ainda ressaltou que o MST priorizará o trabalho de base com formação política e ideológica e zelará pela unidade da classe trabalhadora, “para construir um país soberano, popular e igualitário, rumo ao socialismo”.

 

Unidade pelo povo

 

Convidada do encontro, a ex-deputada Manuela D’Avila comentou que são diversas as pessoas e organizações, inclusive aquelas que ali estavam presentes, que se aproximam por uma mesma leitura da realidade. Segundo ela, estamos vivendo a maior crise da história do capitalismo, onde quem mais sofre é o povo. “O Brasil se coloca como uma nova colônia. A precarização do trabalho faz com que a classe trabalhadora viva cada vez mais na miséria. Junto a isso, apresentam como saída a destruição das poucas políticas públicas, do pouco Estado que nós conseguimos construir”, lamentou.

Manuela apontou a necessidade de união para enfrentar essa realidade, em que diariamente há assassinatos de indígenas e negros das periferias. Também sensibilizou para que a base social organizada não desista do povo. “O povo brasileiro pode ter errado numa eleição, mas nós não vamos deixar que esse erro condene esse povo a uma história de escravidão, de um país destruído, de um país sem soberania, de um povo sem direitos”, emendou.

Diretamente aos integrantes do MST, reforçou que a Reforma Agrária Popular abastece as cidades com alimentos, mostra que é possível produzir em larga escala e sem veneno, inclusive para a merenda escolar. “Vocês nos ensinam todos os dias que lutar vale a pena, que a luta muda a realidade, que só a luta é capaz de mudar e dignificar a vida do povo do nosso estado e país”, concluiu.

 

Memória dos 40 anos de uma luta

 

Além da celebração com amigos, outras atividades fizeram parte do segundo dia do Encontro Estadual do MST do RS. Foi relembrada a luta das famílias que protagonizaram em 1979 as ocupações das fazendas Macali e Brilhante, em Ronda Alta, na região Norte gaúcha.

Integrantes do Movimento fizeram uma encenação para contar essa história, que marcou a retomada da luta pela Reforma Agrária no estado em tempos de ditadura militar.

Trabalhadores que viveram essa busca por vida digna no campo relataram suas formas de organização, dificuldades e conquistas. Essas ocupações, que resultaram em terra para centenas de famílias, são consideradas o berço do MST.

 

Reforma Agrária Popular

 

Já o dia de estudos começou com Miguel Stédile, da direção do MST. Ele destacou que o inimigo do Movimento há tempos deixou de ser apenas o latifúndio e que a luta agora também é contra o agronegócio. “Ele não disputa só nossas terras, ele disputa conosco o modelo agrícola e nossas ideologias nas escolas do campo”, ressaltou.

Stédile argumentou que, nessa conjuntura, o contraponto do MST é a Reforma Agraria Popular, que é mais do que democratizar o acesso à terra. “É produzir alimentos saudáveis para a população, é ter uma vida digna no campo. Isso significa que nossos assentamentos têm que ser um lugar bom para se viver”, assinalou.

Nessa perspectiva, ele frisou outros compromissos do Movimento: desenvolver as economias locais, cuidar dos bens comuns, enfrentar o patriarcado e o racismo, cultivar e defender a cultura popular, cuidar da saúde das famílias Sem Terra, fortalecer a educação do campo para a construção de sujeitos comprometidos com a transformação da sociedade, trabalhar pela unidade e ampliação das forças populares e exercitar a solidariedade com os povos que se encontram em luta contra o imperialismo e o neoliberalismo.

 

Assentamentos e luta pela terra

 

O papel dos assentamentos foi tema do debate conduzido por Cedenir de Oliveira, também da direção do MST. Ele defendeu que esses territórios devem ser de resistência e ferramenta política, estimular a economia local, através de sua organização e produção, e melhorar as condições de vida das famílias.

Na parte da tarde teve estudo sobre questões que envolvem as famílias acampadas. Conforme José Damasceno, do MST do Paraná, o governo federal tenta enfraquecer e frear a luta pela terra através de iniciativas como a titulação de áreas já desapropriadas e cortes de recursos para a Reforma Agrária.

Ele completou que, a resistência ativa nos acampamentos é uma tarefa grande no governo Bolsonaro. Diante dessa situação, é preciso fortalecer a organização dos territórios, bem como preparar o futuro assentamento. “O projeto se faz agora”, observou.

Já a acampada Aida Teixeira relatou a situação dos acampamentos do MST no RS. Citou como referência o Terra e Vida, de Passo Fundo, na região Norte do estado, que se destaca na produção de alimentos saudáveis. “As famílias têm conseguido garantir trabalho e renda dentro do acampamento através da sua organização”, disse.

 

Último dia de encontro

 

Nesta sexta-feira (20) ocorrem as últimas atividades do 19º Encontro Estadual do MST. Os debates serão em torno da organização das mulheres e da juventude, da campanha nacional de reflorestamento do MST e da rede de comercialização de produtos da Reforma Agrária.

Confira a transmissão ao vivo do Encontro dos Amigos: http://bit.ly/36R3DiE 

 

Texto: Catiana e Medeiros

Da Página do MST

 

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