sexta-feira, 22 novembro
Crédito Fernanda Poli

Em visita, deputada Luciana Genro (PSOL) e o deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) verificam decadência de uma instituição de pesquisa que já foi referência nacional. Um centro de excelência que virou um prédio fantasma. Essa foi a constatação da realidade da extinta Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC), visitada pela deputada Luciana Genro (PSOL) e pelo deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) na quarta-feira (25/06). Os parlamentares estão visitando as fundações extintas pelo ex-governador José Ivo Sartori (MDB) para elaborarem um relatório sobre a situação dos funcionários e mostrar qual economia real a medida gerou ao Estado.

A CIENTEC tinha 75 anos de serviços prestados para a indústria gaúcha, nas áreas de eletroeletrônica, química, alimentação, construção civil e geotecnia. A CIENTEC também era responsável pela fiscalização das barragens do Estado, serviço que não está sendo feito atualmente. Os prédios da CIENTEC hoje estão vazios, com equipamentos estragando, laboratórios acreditados pelo INMETRO sem uso e funcionários sem exercer a função de origem.

O guia da visita aos parlamentares foi o engenheiro químico Júlio César Trois Endres, gerente do Departamento de Quínica e PhD na área. Atualmente, sua função foi transformada na de um vigilante patrimonial, já que é o responsável por abrir os laboratórios e zelar pelos equipamentos avaliados em milhares de dólares.

– Sem um químico, eu não tenho como deixar os equipamentos funcionando porque ele precisa ser ligado, testado, utilizado – explica Júlio César.

A CIENTEC foi responsável pelas análises que comprovaram as adulterações apontadas pelo Ministério Público no leite na Operação Leite Compensado, na operação que desvendou o uso de caliça nos adubos e no debate sobre a presença de cádmio e chumbo na erva-mate. Era a única fundação a ter um laboratório acreditado pelo INMETRO capaz de atender rochas ornamentais para exportação. Foi a CIENTEC quem produziu todo o concreto utilizado na construção do parque eólico de Osório.

No local, há diferentes equipamentos para analisar a presença de metais em substâncias, como o espectômetro, e o cromatógrafo, para separação de misturas. Os equipamentos são avaliados em milhares dólares, cujo investimento já foi perdido devido à falta de manutenção.

Há ainda um difratômetro de Raios-X, que segundo um dos técnicos deveria ser utilizado de maneira ininterrupta para funcionar, mas na CIENTEC ele está desligado há um ano e sete meses. Em instituições internacionais de pesquisa, os cientistas se revezam em turnos de trabalho durante a madrugada e fins de semana para mantê-los em operação analisando milhares de amostras científicas relevantes.

– É simplesmente estarrecedora a situação da CIENTEC. São máquinas, equipamentos valiosíssimos extremamente importantes, úteis que estão abandonados, estragando. As extinções de todas essas fundações foram um verdadeiro crime cometido contra o Rio Grande do Sul, contra a ciência e a tecnologia, contra o desenvolvimento do nosso Estado – destaca a deputada Luciana Genro.

– É escandaloso o que está acontecendo aqui, reforçou o deputado Mainardi. “Nem mesmo o argumento da economia se sustenta. O custo para manter essa instituição fechada é maior do que quando prestava serviços e arrecadava com isso. É um capital físico e humano que está sendo colocado no lixo. Uma verdadeira irresponsabilidade com o patrimônio e com o futuro do Rio Grande, desabafou.

Durante a visita, os deputados entregaram ao presidente em exercício da CIENTEC, Marcus Vinicius Berthier de Araujo Goés, um documento elaborado pelo Sindicato dos Engenheiros (SENGE-RS) com questionamentos sobre a situação financeira da fundação extinta, com detalhamento sobre receitas e despesas com consultoria e pessoal, e informações sobre convênios e equipamentos. Antes da extinção, a CIENTEC tinha 240 funcionários.

Hoje são 167 funcionários ligados à Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia e 50 funcionários que seguem nos prédios da extinta CIENTEC via decisão judicial, mas que não podem e não tem como exercer suas funções. Há ainda uma negociação inconclusa para os equipamentos serem usados pelos estudantes da UERGS.

Texto: Juliana Almeida

Compartilhe