Já estamos quase em abril e tanto o Brasil quanto o Rio Grande do Sul observam uma preocupante paralisia governamental. Os que acham que a sociedade prescinde do Estado para se desenvolver devem estar contentes, embora não vejamos qualquer indicador que nos permita comemorações.
Nós, entretanto, que entendemos e defendemos a função indutora que o Estado deve ter para o desenvolvimento econômico, o que lhe dá condições fiscais para alavancar políticas sociais capazes de garantir um mínimo de igualdade que sustente um pacto de convívio democrático, estamos preocupados.
Em nível nacional, a única iniciativa parecida com alguma agenda governamental é a proposta de reforma da previdência apresentada por Bolsonaro e Paulo Guedes, o banqueiro que atualmente dirige o ministério da Fazenda. Uma reforma, pasmem, que, além de retirar direitos dos trabalhadores, prejudicando pelo menos 30 milhões de brasileiros que contam com o sistema previdenciário para organizar a sua vida no entardecer da existência, pretende retirar de circulação R$ 1 trilhão no período de 10 anos. Vejam, não qualquer garantia que esses valores serão utilizados para incrementar investimentos, como alardeiam alguns dos entusiastas desta tragédia.
Para piorar as coisas, a política externa que se insinua por trás das agendas governamentais que estão sendo praticadas nesses três meses, dão conta de prejuízos reais para a economia brasileira, seja na submissão aos interesses dos EUA, visto como um aliado que tudo pode, como se viu em recente visita de Bolsonaro a Trump, quanto no viés ideológico das relações com parceiros estratégicos, como a China, responsável por algo em torno de 30% de nossas exportações, principalmente do agronegócio.
Em nível estadual, a situação não é muito diferente. Apesar de termos aqui um governador que, até que se prove o contrário, tem compromissos com a democracia e defensor de um convívio político harmônico com os outros poderes e com a própria sociedade, não conseguimos vislumbrar qualquer agenda que responda às necessidades fundamentais para a recuperação fiscal e econômica do Rio Grande do Sul.
Não se fala na crise da saúde, na difícil situação da educação e nem mesmo se debate a necessidade de desenvolver políticas públicas regionais que substituam a paralisia do governo federal frente às dificuldades de nossos produtores. Nesse quesito, inclusive, por mais absurdo que possa parecer, o governador não se preocupou sequer em resolver a acefalia da qual sofre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado, que até hoje não tem secretário.
Passados quase 100 dias de governo, Eduardo Leite mantém um reme-reme governamental, tocando um piano de tecla única, que soa a música velha e ultrapassada das privatizações, como se isso bastasse para resolver todos os grandes problemas que herdou do trágico governo de Sartori.
Paralisados, esses governos ampliam a sensação da sociedade de que não há saídas. Entretanto, sabemos que existem, como foram explicitadas nas recentes campanhas eleitorais, quando tanto Haddad, no Brasil, quanto Rossetto e Jairo Jorge, no RS, apresentaram uma visão de desenvolvimento capaz de resistir aos efeitos da crise internacional e proteger a sociedade brasileira dos retrocessos das privatizações e da retiradas dos direitos trabalhistas e previdenciários.
O que nos resta é resistir e a partir das próximas eleições reconstruir o pacto político e social que nos deu tantas alegrias no passado recente e que nos garantirá recuperar o Brasil e o Rio Grande a partir das necessidades do povo.
Luiz Fernando Mainardi – líder da bancada do PT na ALRS.