sábado, 23 novembro
Primeiro parlamentar a ocupar o período do Grande Expediente após o segundo turno das eleições, Luiz Fernando Mainardi (PT) apresentou, na sessão plenária desta terça-feira (30), uma análise da conjuntura que emerge das urnas. Na avaliação do parlamentar, o último pleito foi marcado por uma série de paradoxos, culminando com a vitória, pela primeira vez na história da democracia brasileira, de um governo de extrema direita. Para ele, o novo cenário será desafiante para ambos os lados. “Os confrontos públicos de ideias, os conflitos sociais, as polêmicas acadêmicas e a luta por direitos e justiça não se extinguem no âmbito da democracia. Esses, aliás, entre tantos outros, são fenômenos que caracterizam uma democracia. Se eles estiverem em risco, será a própria democracia que estará”, alertou.
Mainardi defendeu o respeito à escolha feita pelo povo, ressaltando, no entanto, que não é possível ignorar que ela foi construída com base em notícias falsas, reprodução de preconceitos religiosos e ameaças à democracia. “O problema da legitimidade é dele (Bolsonaro), não nosso. Com uma minoria de votos, porque há mais eleitores no Brasil que não o apoiam do que os que o apoiaram (basta somar os números), o presidente eleito terá ainda que demonstrar sua aderência à democracia e às suas instituições”, apontou.
Ele disse também que o candidato do PSL não afirmou nada com “começo, meio e fim” em relação ao seu programa de governo e que baseou sua campanha em um núcleo moral e messiânico. Ressaltou, entretanto, que o futuro ministro Paulo Guedes tem ideias ultraliberais e entreguistas e cobrou da extrema direita a apresentação de seu plano de governo.
Ainda avaliando o resultado da eleição presidencial, o deputado afirmou que o “PT vive” e que continuará sendo um ardoroso defensor da democracia e da liberdade no Brasil. “Esses valores estão em risco. Nós já sabemos como isso começa e sabemos, também, como termina. Por isso, ficaremos muito mais do que atentos, respeitando a Constituição e as instituições, mas sem arredar pé da defesa do direito que temos de lutar socialmente contra injustiças e de mobilizar o povo a favor de seus direitos”, avisou.
Mainardi considera que Fernando Haddad e Manuela d Avila saem cacifados das urnas como líderes nacionais para dirigir a esquerda em qualquer desafio e comandar a luta em defesa das liberdades civis. “Temos orgulho desta monumental dupla de lutadores sociais, responsáveis diretos pelos milhões de votos que recebemos”, enfatizou.
Ao citar episódios de incitação à violência pós-eleição, o deputado afirmou ainda que a chave para entender a atual conjuntura é o conceito de democracia. “A democracia, evidentemente, não é apenas o direito ao voto e nem mesmo o direito a fazer posts em redes sociais. A democracia é o direito ao Estado laico, o direito a não criminalização dos movimentos sociais, o direito à tolerância política e à diversidade de raça, gênero e fé. A democracia, em sua formalidade, é a defesa intransigente dos direitos civis, entre eles, o direito de não ser torturado e ser respeitado em sua individualidade física e legal”, pontuou, enfatizando que há um temor de que a violência volte a ser uma marca no debate político no País.
Peculiaridades
Segundo Mainardi, a última eleição foi marcada por peculiaridades, novidades, surpresas e por paradoxos que “ganharam a dimensão de momentos dominantes”. “Nunca antes se debateu tanto entre os eleitores e tão pouco entre os candidatos. Nunca tivemos uma eleição em que o grande desafio dos apoiadores de uma candidatura era convencer as pessoas de que o seu candidato não faria o que ele diz que fará”, citou.
Na avaliação do petista, nunca o Brasil saiu tão dividido de uma eleição e “nunca a democracia nos colocou tão perto de uma ditadura política e de costumes, com discursos ameaçadores às instituições democráticas, com a mistura da política com a religião, com o discurso da violência ganhando autorização para ingressar na arena política”. “Nunca, enfim, após a maior liturgia da democracia brasileira, a eleição, estivemos com a democracia tão maculada e fragilizada em nosso País, tão necessitada de cuidados e proteção”, sentenciou.
Governador
Mainardi parabenizou o governador eleito Eduardo Leite e lembrou que o eleitor petista colaborou com sua vitória. Ressaltou, no entanto, que a migração de grande parte dos votos recebidos no primeiro turno pelo candidato do PT, Miguel Rossetto, para a candidatura de Leite não significa adesão ao programa do tucano, embora existam pontos em comum.
Para ele, a transferência dos votos petistas, foi motivada pela intenção de derrotar o projeto de continuidade representado pelo governador José Ivo Sartori e pelo fato de o candidato vencedor ter assumido compromisso com a defesa dos direitos humanos, com a não privatização do Banrisul e da Corsan e com o pagamento em dia dos servidores. “Existem, em minha opinião, pontos de convergência no que propôs o candidato eleito e o programa que defendemos nas eleições para o governo do Estado. Trabalharei para que estes pontos possam ser a base de uma ponte e não de um muro em nosso exercício político de oposição, ao qual fomos direcionados pela decisão do povo”, anunciou, salientando que o maior ponto em comum entre o PT e o novo inquilino do Piratini será a defesa da democracia, da pluralidade e da convivência entre os diferentes. “Que sejamos intransigentes nisso e será possível transigir em questões não essenciais. O momento é grave e somos, todos, responsáveis pelo futuro”, declarou.
O petista finalizou seu discurso citando o poeta alemão Friedrich Hölderlin em referência ao movimento de resistência democrática: “Mas onde está o perigo, cresce também o que salva”.
Também se manifestaram por meio de apartes a deputada Stela Farias (PT) e o deputado Frederico Antunes (PP).
Crédito: Ronaldo Quadrado
Crédito: Ronaldo Quadrado

Fonte: Agência de Notícias ALRS

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