Um ano depois das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul e escancararam a vulnerabilidade socioambiental do Estado, o seminário “Desafios e novas perspectivas para o pós-enchentes” reuniu autoridades, pesquisadores e movimentos sociais. Proposto pela deputada Laura Sito, em parceria com a Rede Gaúcha de Instituições para o Ensino Sustentável (REGIS), o evento realizado na segunda-feira (12/05), no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre, teve como objetivo debater estratégias de prevenção, adaptação e justiça climática frente às novas realidades impostas pelas mudanças do clima.
A sessão de abertura contou com a presença de Ursula Silva, reitora da UFPel e coordenadora da REGIS, Márcia Barbosa, reitora da UFRGS, Alexania Rossato, da coordenação do MAB-RS, e da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Márcia Rollemberg (Macaé). No painel da manhã, intitulado “Colapso climático e as políticas de sobrevivência”, Laura voltou à mesa como debatedora ao lado do climatologista Carlos Nobre e da secretária de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Tainá de Paula. A deputada reforçou a urgência de políticas estruturantes para a reconstrução do Estado.
“As enchentes não foram um acidente, foram consequência direta de décadas de negligência ambiental e de planejamento urbano excludente. Precisamos enfrentar isso com coragem política e justiça social”, afirmou. Carlos Nobre, referência internacional nos estudos sobre Amazônia e mudanças climáticas, alertou para o agravamento dos eventos extremos e a necessidade de agir com base em dados científicos. “O que vimos no Rio Grande do Sul pode se repetir e até se intensificar se não mudarmos radicalmente a forma como planejamos nossas cidades e cuidamos dos nossos biomas”, disse.
Tainá de Paula, por sua vez, destacou que a reconstrução deve estar ancorada na justiça social. “Não estamos falando só de clima, mas de desigualdades históricas. São sempre os mesmos territórios e corpos que pagam o preço mais alto. A reconstrução precisa ser antirracista, feminista e popular”, pontuou. À tarde, representantes de movimentos sociais e organizações comunitárias compartilharam vivências e propostas para o futuro. Angela Comunal (UAMPA), Álvaro Delatorre (MST) e Tiago Dominguez (Movimento Litoral Norte) abordaram experiências de base e alternativas construídas coletivamente.
O encerramento ficou a cargo de Louidi Lauer, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, e Franco Buffon, do Serviço Geológico do Brasil, com uma discussão técnica sobre estratégias integradas de redução de riscos climáticos. Gratuito e aberto ao público, o seminário reafirmou a necessidade de aliar ciência, política pública e participação social para reconstruir o Rio Grande do Sul com mais resiliência, equidade e justiça climática.
Texto e foto: Nathália Schneider