Marco minha estreia nas páginas do Diário de Santa Maria, na condição de articulista, falando de um assunto recorrente no meu trabalho legislativo: a RSC-287. De antemão, esclareço que sempre fui a favor da sua duplicação e coordeno, no Parlamento gaúcho, desde 2019, a Frente Parlamentar que defende essa pauta.
Mas o que a espanhola Sacyr Concesiones vem fazendo com a população de Santa Maria e da região – e com os milhares de outros motoristas que nela trafegam – pode ser classificado como deboche e falta de seriedade de quem tem uma concessão pública do estado. E não se trata de um “negócio” qualquer. Estamos falando da autorização por três décadas para explorar os serviços de pedágio – cinco praças de cobrança ao longo de 204 quilômetros, estrategicamente instaladas para evitar “fugas” de motoristas – em troca de entregar à população a melhoria e a manutenção da estrada.
Desde o início das operações, em 2021, temos alertado que esse tipo de negócio precisa vir revestido do chamado “ganha-ganha”, onde nenhuma parte envolvida saia no prejuízo e se mantenha uma relação transparente. Porém, não tem sido este o espírito que vem coroando a relação, muito pela arrogância da concessionária, pelo pouco pulso do governador Leite e pela quase inoperância da AGERGS, que, em tese, deveria fiscalizar com lupa as ações da empresa, e levar às últimas consequências a defesa dos interesses legítimos dos gaúchos.
É revoltante ver filas quilométricas de veículos que chegam a ficar parados por quase duas horas nos trechos onde o fluxo é intercalado para que obras sejam realizadas; é angustiante ver pessoas dentro de ambulâncias que não têm como ir adiante. É triste tomar conhecimento que, dias atrás, uma mãe, de Restinga Seca, entrou em desespero porque o seu carro estava “preso” no congestionamento da saída de Santa Maria e o filho autista, que estava com ela no veículo, a qualquer momento, poderia entrar em surto em virtude do fim do efeito da medicação.
No próximo dia 15 de abril, na sede do Parlamento estadual, estaremos realizando mais uma audiência pública para cobrar da empresa e do governo uma solução para esse verdadeiro absurdo e descalabro. Lutar pela RSC-287 é uma ação coletiva, é um momento em que as posições políticas devem ser deixadas de lado, é uma oportunidade de somar forças em favor de algo que nos une. Um negócio só é realmente bom quando ambas as partes ficam satisfeitas. Fora disso, é beneficiar o lado mais forte. Fora disso, o caso é de Justiça (ou de Polícia).
* Deputado Valdeci Oliveira, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul Artigo publicado originalmente no Diário de Santa Maria em 7 de abril de 2025 Foto: Vanessa Vargas