Santa Maria sediou, sábado (29/03), a 7ª edição do Prêmio Mulheres de Luta, uma iniciativa do mandato parlamentar do deputado estadual Valdeci Oliveira. Criado em 2017, o prêmio tem o objetivo de contribuir no debate sobre conscientização e valorização do empoderamento feminino e seu fortalecimento junto à sociedade. Na cerimônia que reuniu convidados, amigos e familiares de 35 homenageadas no Floratta Espaço de Eventos, lideranças femininas (ver lista abaixo), reconhecidas pelo seu trabalho e oriundas de diferentes regiões do estado e áreas de atuação, foram agraciadas com um certificado pela contribuição junto a setores como o da saúde, educação, advocacia, agricultura, ativismo social, jornalismo, militância política, empreendedorismo, assistência social e cultura, entre outras.
Conforme Valdeci, o Prêmio é um gesto simples e singelo, mas carregado de muito simbolismo, significado, sinceridade e seriedade. “Mais do que reconhecimento, queremos destacar o empoderamento daquelas que, apesar de fazerem História em várias frentes, muitas vezes são invisibilizadas, sofrem preconceito, racismo e violência. E se temos o compromisso com a igualdade, a luta, a inclusão e a dignidade não podemos deixar de fazer esse gesto, esse movimento. E também é uma forma de agradecimento a tudo o que vocês fazem”, destacou. “Esta é a edição em que temos a participação do maior número de vereadoras eleitas, e isso é uma demonstração do que pensamos, uma demonstração de que as mulheres, apesar de tudo, também vêm ocupando e conquistando espaço naquele que, ao longo da História, com pequenas exceções, era destinado e preenchido pelos homens. E que outras tomem o exemplo dessas para que nos próximos encontros do Mulheres de Luta tenhamos aqui dezenas e dezenas de outras vereadoras, prefeitas e vices, pois, além do lugar de vocês ser onde vocês quiserem estar, a vida só é modificada e melhorada através da política, onde cada um e cada uma possa cumprir o seu papel”, enfatizou.
Representando as homenageadas da noite, falaram ao público a jornalista e professora titular do curso de Jornalismo da UFRGS, Sandra de Deus; a ativista pela luta do direito à terra e atual presidente da Associação de Mulheres do Campo e da Cidade, no Assentamento Guajuvira (São Gabriel), Natalina Feldkircher; e a cientista social e primeira suplente de vereadora na capital gaúcha pelo Partido dos Trabalhadores, Jane Pilar. “Todas nós passamos por tempestades, ciclones, ventanias, falta de energia, uma grave crise climática e ainda a falta de políticas públicas de desgovernos que fazem descaso com as mulheres. Nossas lutas cotidianas exigem vigilância e nossas trajetórias pedem celebração. São tempos marcados pelo individualismo e negligência, pela desumanidade e pelo atrevimento criminoso, pois bem próximo daqui um feminicídio pode estar sendo praticado, uma atitude misógina que aparta as mulheres de decisões importantes na política, na academia, na cultura e no esporte”, lembrou Sandra.
“Mulheres de Luta lutam por igualdade, pelo pão, pela família, pelos filhos, pelo espaço na política, pela sobrevivência. Lutam por outras mulheres”, afirmou Natalina Feldkircher, dedicando a premiação às “Ninas, Anas, Marinas, Carmens, Joanas e às mais de 700 mulheres assentadas na região de São Gabriel”. “Março é um mês significativo, pois é um mês que o Brasil ganhou um Oscar, o mês em que Elis Regina completaria 80 anos, um mês que tivemos uma vitória da Democracia. A gente precisa estar juntas, se reforçar, tem de estar de A a Z, na Nasa, na agricultura, na reitoria das universidades, pesquisando, estar do outro lado do balcão, estar na rua. Precisamos ser reconhecidas pelos homens, mas a gente precisa ocupar o espaço da política”, enfatizou Jane.
A atual edição do Mulheres de Luta se dá num momento em que é importante reforçar a luta pelo reconhecimento e empoderamento das mulheres, visto que voltam à cena social casos que servem como um sinal de alerta: a maior produtora de audiovisual vinculada à extrema-direita brasileira, com milhões de seguidores nas redes sociais e nas plataformas de vídeos, chocou a opinião pública ao produzir material com desinformação tanto sobre a Lei Maria da Penha como sobre a vítima de tentativa de homicídio pelo próprio marido que dá nome à legislação, tendo como resultado sua perseguição nas redes sociais e uma profusão de ameaças violentas que a obrigaram a buscar proteção policial. Não menos sério é uma suposta campanha de culpabilização das mulheres pelos problemas pelos quais passam o Brasil e o mundo, elaborada por segmentos neopentecostais com forte penetração junto a grandes camadas da sociedade.
Segundo essas lideranças fundamentalistas, as mulheres seriam as responsáveis pelas adversidades por supostamente não mais “cuidarem” de suas famílias, da casa e das lidas domésticas para trabalharem fora e buscarem uma carreira profissional. “Fazer o reconhecimento do valor da participação da mulher na vida cotidiana, da sua capacidade e vontade de lutar é também um ato de resistência a esse tipo de abordagem e faz com que a gente tenha a certeza de que, defender esta pauta, contribuir com o debate, buscar legislações inclusivas e que combatam todas as forma de preconceito é estarmos do lado certo da História. Não podemos retroceder no tempo nem admitir esse tipo de postura excludente, que coloca as mulheres como pessoas de segunda classe, com direitos relativos”, pontuou Valdeci.
Ao final da cerimônia, os presentes participaram de um coquetel e foram brindados, ao vivo, com a música da dupla Paola Matos e Erick Corrêa, que contou com uma pequena participação da também cantora e mestre de cerimônias da atividade, Gisele Guimarães.
Também prestigiaram o evento as vereadoras Grazi Marafiga Kaus (São Gabriel) e Marina Callegaro (Santa Maria); os vereadores Sidinei Cardoso e Valdir Oliveira (Santa Maria); o prefeito de Itaara, Sandro Ferigollo; e a advogada Andreia Turna, representando o mandato do deputado federal Paulo Pimenta.
Desde que foi criado, o Prêmio Mulheres de Luta somente não foi realizado em 2020 e 2021, por conta da pandemia da covid-19. Sem contabilizar os nomes deste ano, já foram homenageadas mais de 250 mulheres gaúchas.
*Homenageadas no Mulheres de Luta 2025 (Nome/Cidade/Área da Atuação)*
– Adélia Marilene Emmel – Vera Cruz – Advogada
– Albertina Moro Balconi – Santa Maria – Liderança Comunitária
– Alice de Souza Ribeiro – Júlio de Castilhos – Servidora do IFFar e vereadora
– Ana Aurelia Flores Andreazza – Rosário do Sul – Assistente Social
– Andrea Borba Ferigollo – Itaara – Liderança Comunitária
– Andrea Marconatto Ludtke – São Pedro do Sul – Educadora
– Andreia dos Santos Lançanova – São Francisco de Assis – Técnica de Enfermagem
– Angela Maria Souza de Lima – Santa Maria – Assistente Social e Integrante do Movimento Negro Unificado
– Caren Cristiane da Rosa Castencio – Bagé – Pedagoga, professora e Sec. de Educação
– Cassiana Marques da Silva – Santa Maria – Servidora pública federal e Pró-Reitora Adjunta de Assuntos Estudantis da UFSM
– Cristiane Bertoldo Moro – Ivorá – Agricultora
– Dalva Maria Righi Dotto – Santa Maria – Administradora e Professora Universitária
– Elisane Rodrigues dos Santos – Formigueiro – Técnica de Enfermagem e Vereadora
– Érica Vanessa Santori – Vila Maria – Advogada e Vereadora
– Gabriela Souza Cezimbra – Santa Maria – Advogada
– Giana Fabricia Lopes de Castro – Novo Cabrais – Bacharel em Letras e Vereadora
– Gislaine da Palma Pavão – Santa Maria – Professora
– Iara Chagas Castiel – Santiago – Professora, psicólogo e advogada
– Jane Terezinha Sobrosa Pilar – Porto Alegre – Cientista social e ativista cultural
– Juçara Dutra Vieira – Porto Alegre – Professora estadual e Dirigente sindical e partidária
– Leila Medianeira Coutinho Rosa – Santa Maria – Enfermeira e Ativista do Movimento Negro Unificado
– Luana da Silva Pinheiro – Dilermando de Aguiar – Pedagoga e Professora da Educação Infantil
– Lucia Marina Rodrigues Gomide – Santa Maria – Técnica Contábil e Presidente do Grupo de Terceira Idade Tempo de Ouro
– Luiza Andrea Meus dos Santos – Manoel Viana – Vereadora
– Maitê Cezar da Silva – Santa Maria – Pedagoga e Alfabetizadora de Jovens e Adultos
– Maria Helena Callegaro – Jaguari – Educadora Especial
– Maria Rita Figueró Feijó – Nova Santa Rita – Professora e Vereadora
– Marinara Abreu Silva – Itaara – Pedagoga e Vereadora
– Miguelina Barcellos da Silva – Santa Maria – Ativista Social
– Natalina Feldkircher – São Gabriel – Técnica em agroindústria
– Rosângela Barin Abreu – Santa Maria – Professora Estadual
– Sandra de Fátima Batista de Deus – Porto Alegre – Jornalista e Professora Universitária
– Sirlei Rapkievicz – Casca – Vereadora
– Thaise Correa Dalsasso – Quaraí – Vereadora
– Vanessa Zacarias Rondinel – Santa Maria – Ativista dos Direitos dos Autistas e advogada
Texto: jornalista Marcelo Antunes
Imagens: Christiano Ercolani