quinta-feira, 21 novembro

A deputada Laura Sito (PT) participou, na quarta-feira (06/12), da instalação da Frente Parlamentar Contra a Violência Política de Gênero, de iniciativa da deputada Bruna Rodrigues (PCdoB). Durante a atividade, Laura destacou, ao mesmo tempo, a importância do papel que mulheres como ela e Bruna desempenham, mas também os obstáculos que enfrentam no cotidiano. “Esta casa, em quase 200 anos pela primeira vez tem mulheres negras parlamentares. Pela primeira vez, esse estado elege mulheres negras deputadas e nós sentimos diariamente a intersecção do que o patriarcado e o racismo são capazes de nos negar, como o pertencimento e a ocupação de espaços de poder”, afirmou.

A parlamentar ainda mencionou a experiência que acumula nos seus dois mandatos, primeiro como vereadora e, agora, como deputada tanto no que se refere à violência e ao cerceamento em relação às mulheres, tanto na importância do fortalecimento quanto na resistência coletiva. “Eu percebi o quanto a política é um espaço violento para as mulheres e o quanto que muitas vezes nós não conseguimos compreender a importância da nossa articulação para que nós possamos combater o patriarcado.”
A violência política de gênero, tipificada como crime desde novembro de 2021, nem sempre se materializa de forma objetiva. Muitas vezes, ela acontece de forma subjetiva e a falta de materialidade dificulta a sua criminalização. Uma das formas comuns de violência contra mulheres na política se dá por meio do silenciamento, da invisibilidade e da desarticulação. “A dinâmica da política, que é masculina, nos divide, coloca nossas pautas em segundo plano, fala dos nossos temas como se eles não fossem pertencentes ao todo.” Essa dinâmica, tem como pano de fundo a manutenção de privilégios e da exclusão das mulheres, por isso, “nós precisamos compreender que a lógica do sistema político sufoca a nossa existência no espaço da política, justamente para que nós não sejamos capazes de contrapor essa lógica”, apontou Laura Sito.
Outro ponto importante mencionado pela deputada em sua fala, é a respeito sobre a forma como a violência política de gênero e raça nega às mulheres o direito à representatividade. “Pra nós é muito duro que os primeiros anos da nossa vida parlamentar tenham sido anos em que tenhamos sofrido tantas ameaças de morte pelo nosso livre exercício democrático, pelo nosso livre exercício do direito que nos foi dado pelo povo gaúcho de sermos escolhidas para representar a nossa população.”
Esta não é uma realidade isolada, mas faz parte da construção social machista, racista e patriarcal do nosso país. “Infelizmente essa é a realidade de um país que mais mata defensoras de direitos humanos. Um dos países do mundo que mais mata a população LGBT, onde mais jovens negros morrem de maneira violenta, de um dos países onde temos as maiores taxas de violência sexual, no mundo.” Para a deputada, que também é a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, todas essas violências estão conectadas.
Por isso, iniciativas como a frente parlamentar lançada pela deputada Bruna dialoga com essa necessidade de articulação e de dar visibilidade a este tema tão central na agenda pública do Brasil, uma vez que a violência política de gênero interdita possibilidades não só de mulheres em cargos eletivos, mas também de toda a população que escolhe essas mulheres para serem suas representantes. “Portanto, garantirmos a nossa existência nesses espaços de poder é também garantir uma condição digna para que o nosso povo possa viver também fora desses espaços. É pela garantia da nossa existência, é pela garantia das nossas vidas, é pela garantia da nossa dignidade humana que nós nos mantemos aqui vivas e de pé”, afirmou a deputa Laura Sito.
Texto: Manu Mantovani
Foto: Celso Bender/ALRS

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