Villaverde faz avaliação do contexto político nacional e se despede do Parlamento

Crédito Ronaldo Quadrado
O deputado Adão Villaverde (PT) ocupou pela última vez o espaço do Grande Expediente na tarde desta quarta-feira (12), fazendo sua despedida do Parlamento gaúcho. Ele não concorreu à reeleição. O tema do pronunciamento foi Diferenças, convicções e diálogo. Num primeiro momento, Villaverde fez uma avaliação do contexto político nacional, em especial decorrente das últimas eleições. Noutro, fez um resgate da trajetória dos seus quatro mandatos na Casa legislativa.
“Vivemos um tempo de futuro incerto, há uma enorme contaminação social pelo turbilhão do ódio e da intolerância, vertebrados pela violência e o armamentismo, que se entranham diariamente, como um vírus silencioso, nos cernes das relações sociais, físicas e virtuais, procriando inimizades de toda ordem, até mesmo de caráter familiar”, destacou da tribuna.
Observou que, diferentemente de outras épocas, há algumas décadas ganha forte percepção a noção de que conflitos e divergências são problemas, “chegando, inclusive, até a criminalização das diferenças. Esta é uma visão que tem como estratégia, fragilizar e desconstruir mais ainda a política”, alertou. Soma-se a isto, agregou, “um sentimento de narrativa construída e impregnada na cabeça das pessoas de que, nos tempos do regime autoritário, as coisas eram melhores. Pura ilusão, ledo engano”, advertiu.
Práticas autoritárias
Exemplos, prosseguiu, não faltam, mostrando os perigos decorrentes destas práticas autoritárias e regressivas.“O primeiro deles e mais imediato é de tratar o contendor como inimigo, e não como adversário político. O segundo, é tentar domesticar de tal maneira as diferenças, levando à quase eliminação da posição do interlocutor, como já chamava atenção Hannah Arendt, quando da ascensão do nazi-fascismo”, mencionou.
O resultado, apontou, é a criação de um ambiente social em que os liderados aderem aos seus líderes sem nenhuma capacidade crítica. “Assim, aparecem as grandes perdas. Uma delas é se abdicar da construção de um processo de diálogos e consultas que resulte na chegada a um consenso majoritário consistente, diverso e comprometido. A outra derrota, capital: a grande renúncia ao exercício do contraditório, que é a ponte entre a superação dos legítimos conflitos e a construção dos consensos majoritários, momentos em que parcelas significativas da sociedade possam se sentir minimamente representadas”, analisou.
Caminhada
Adão Villaverde disse acreditar ter realizado no Parlamento “o bom embate, sem despregar das relações sociais, políticas, culturais, comunitárias e identitárias que deram origem às nossas representações, amparados na trajetória das lutas sociais e das experiências de gestão”. Igualmente, ressaltou que seus quatro mandatos foram ancorados por práticas consistentes e propositivas de fazer oposição, “com convicções e posições firmes, sem renunciar ao diálogo e à construção de consensos majoritários, e possíveis”.
Como iniciativas parlamentares ao longo dos períodos, citou a “Lei Villaverde”, que controla o enriquecimento ilícito de gestor público; a “Lei Kiss” em defesa da vida, sancionada pelo governador Tarso Genro em 2013; a “Lei de Inovação” gaúcha, bem como a “Lei da Reciclagem”. Falou, ainda, dos seus trabalhos nas várias comissões permanentes, ao mesmo tempo em que se disse honrado por haver presidido o Legislativo rio-grandense.
“Inovamos com a Gestão Compartilhada, avançamos na Transparência, na Acessibilidade e nos Controles, mas especialmente na política e nos temas fundamentais ao RS. Cunhamos o selo “A Casa dos Grandes Debates”, que hoje está incorporado institucionalmente, recuperando e atualizando o protagonismo político do Parlamento, inclusive com presenças inéditas de dois presidentes da República, Pepe Mujica e Dilma Roussef”, relembrou. Comentou, igualmente, sua passagem como secretário da Ciência e Tecnologia no governo Olívio e a disputa à prefeitura da Capital.
Professor e engenheiro
Identificando-se como professor e engenheiro, disse que voltava a estas atividades “de forma honrada e de cabeça erguida, porque elas, combinadas, são realmente a minha profissão. Vou me dedicar à atividade acadêmica, à pós-graduação, à Engenharia e seguir fazendo política ao lado das relações sociais que sempre deram origem às nossas representações”, assegurou, sublinhando haver afirmado, sempre, que ser deputado não é profissão, “é uma delegação de representação transitória, com dia e hora para começar e terminar”.
Afirmou que continuará escrevendo, elaborando, formulando, refletindo, participando de debates, eventos e atividades “a que for convidado, para contribuir sempre de forma crítica, propositiva e com muito diálogo, em temas sobre o contexto político local, nacional e internacional. Mas também voltarei a me dedicar aos assuntos científico-técnicos, sobretudo à inovação, grande instrumento para transformar conhecimento em valor à sociedade”, sublinhou.
“Este rito no Parlamento (Grande Expediente), não é para anunciar desistência, mas sim para descortinar um novo ciclo, pois nem os tempos obscurantistas vão deter a possibilidade de nos renovarmos e nos ressignificarmos de forma permanente, atualizando sempre a visão iluminista que embalou nossa geração, reafirmando e reatando nossos compromissos com a liberdade, a igualdade, a solidariedade e o humanismo”, finalizou.
Presenças e apartes
Em apartes, manifestaram-se os deputados Luiz Fernando Mainardi (PT), Frederico Antunes (PP), Edson Brum (MDB), Sérgio Peres (PRB), Entre as autoridades convidadas e que compuseram a Mesa diretiva, a presença dos ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro.
Fonte: Agência de Notícias ALERGS